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Marisa I Soster Sartori

SUPERE SUAS INSEGURANÇAS: DESVENDANDO O SISTEMA DE ALERTA EM SITUAÇÕES DE PERIGO E INSEGURANÇA

O sistema de alerta do corpo humano é uma resposta complexa e multifacetada, essencial para a sobrevivência, que envolve a interação de várias estruturas cerebrais e sistemas fisiológicos. Este sistema permite que o indivíduo reaja rapidamente a ameaças percebidas por meio das respostas de luta, fuga ou congelamento. Compreender como essas respostas são mediadas é fundamental para desenvolver estratégias eficazes de regulação emocional e enfrentamento de inseguranças.

  A complexidade do funcionamento da mente e do corpo humano é sustentada por intricadas redes de conexões neurais, das quais o Sistema Nervoso Autônomo (SNA) é uma parte integral. Este sistema desempenha um papel vital na regulação de respostas automáticas e emocionais, conectando-se a várias regiões cerebrais através de vias neurais específicas. Compreender essas conexões, especialmente a interação entre o hipotálamo e o SNA, é essencial para desvendar como nosso corpo reage a situações de perigo e estresse.

  O SNA está diretamente envolvido nas respostas de luta, fuga e imobilização. Essas reações são mediadas por um mecanismo de neurocepção, que permite ao indivíduo avaliar a segurança ou ameaça do ambiente. Quando o ambiente é percebido como seguro, mecanismos inibitórios atuam sobre as estruturas límbicas, como a amígdala, prevenindo comportamentos de luta ou fuga. Em contrapartida, quando o ambiente é percebido como ameaçador, a amígdala desencadeia estímulos excitatórios que ativam respostas de luta ou fuga através da substância cinzenta periaquedutal.

  Além das respostas de luta e fuga, o congelamento é uma reação defensiva que ocorre quando a pessoa se sente paralisada diante de uma ameaça. Esta resposta é mediada pela estimulação da região ventrolateral da substância cinzenta periaquedutal, resultando em uma ativação neural que pode levar à imobilização. Durante essas reações, ocorrem mudanças autonômicas, como bradicardia e queda da pressão arterial, contrastando com a elevação da frequência cardíaca e pressão arterial observadas nas respostas de luta ou fuga.

  Compreender essas respostas fisiológicas é essencial para desenvolver estratégias eficazes de regulação emocional e enfrentamento de inseguranças. Técnicas como mindfulness, terapia e fortalecimento de conexões sociais podem ajudar a moderar a ativação do sistema de alerta, promovendo um estado de calma e segurança.

  Este eBook é uma exploração sobre como o trauma e as inseguranças afetam o sistema de alerta do corpo humano, com foco especial em inseguranças gerais e aquelas relacionadas à sexualidade. Baseado em pesquisas atuais e nos ensinamentos da autora Gina Ross, este guia visa oferecer uma compreensão profunda e estratégias práticas para lidar com essas situações, promovendo o bem-estar emocional e a segurança pessoal.

 

Sistema de Alerta: Definição e Função

  O sistema de alerta, também conhecido como resposta de "luta ou fuga", é uma reação fisiológica que ocorre em resposta a uma ameaça percebida. Ele prepara o corpo para enfrentar ou escapar do perigo, aumentando a frequência cardíaca, a respiração e a liberação de hormônios como adrenalina e cortisol.

 

Ativação do Sistema de Alerta

  Este sistema é ativado pelo cérebro quando uma ameaça é percebida, seja ela real ou imaginária. Em situações de perigo concreto, como um assalto ou um acidente, essa resposta é crucial para a sobrevivência. No entanto, em situações de insegurança emocional ou psicológica, essa ativação pode ser desnecessária e prejudicial.

 

Compreendendo o Trauma e o Sistema de Alerta

  O trauma é uma resposta emocional a eventos perturbadores que podem ter efeitos duradouros na saúde mental e física. Exemplos incluem abuso, acidentes, violência e desastres naturais.

 

Tipos de Trauma

- Trauma Agudo: Resulta de um único evento estressante.

- Trauma Crônico: Decorre de exposição prolongada a situações estressantes, como abuso contínuo.

- Trauma Complexo: Caracterizado por múltiplos eventos traumáticos, muitas vezes ocorrendo em um contexto interpessoal, onde há uma relação contínua entre a vítima e o perpetrador. Um exemplo clássico de trauma complexo é o abuso infantil prolongado, onde a criança pode ser submetida a abusos físicos, emocionais ou sexuais por um cuidador ou membro da família ao longo de vários anos. Outro exemplo pode ser encontrado em situações de violência doméstica, onde uma pessoa é repetidamente exposta a agressões físicas e emocionais por parte de um parceiro íntimo. Nesse contexto, a vítima não apenas enfrenta o trauma físico, mas também a manipulação emocional e o controle coercitivo, que podem ocorrer diariamente, criando um ambiente de constante medo e insegurança.

  Essas experiências traumáticas repetidas e prolongadas podem ter um impacto profundo no desenvolvimento emocional e psicológico da pessoa, levando a dificuldades em estabelecer confiança, problemas de identidade e uma resposta de alerta hiperativa, mesmo em situações que não representam perigo imediato. O trauma complexo, portanto, requer abordagens terapêuticas especializadas que considerem a profundidade e a complexidade das experiências vividas pela vítima.

  O sistema de alerta do corpo "luta ou fuga" é ativado em situações de ameaça, preparando o corpo para reagir. Em pessoas traumatizadas, esse sistema pode se tornar hiperativo, levando a uma constante sensação de perigo. Isso é útil em situações de perigo real, mas pode ser debilitante quando ativado constantemente.

 

Inseguranças Gerais e Relacionadas à Sexualidade

 

Inseguranças Gerais

  Podem incluir medo de falhar, medo do desconhecido ou ansiedade social. Essas inseguranças podem ativar o sistema de alerta, mesmo quando não há perigo físico iminente.

 

Inseguranças Relacionadas à Sexualidade

Envolvem preocupações relacionadas à identidade sexual, desempenho sexual ou aceitação social. Essas inseguranças podem ser intensificadas por normas culturais e sociais, resultando em uma ativação constante do sistema de alerta, o que pode ocasionar disfunções sexuais em homens e mulheres.

 

Exemplos de Situações de Perigo Concreto:

  - Assalto: Um indivíduo que foi assaltado pode sentir pânico ao caminhar sozinho à noite.

- Abuso Sexual: Sobreviventes de abuso sexual podem experimentar flashbacks ou ansiedade em situações que lembram o trauma.

 

Exemplos de Situações de Perigo Não Concreto:

Essas situações geralmente envolvem percepções ou interpretações de ameaça que não representam um risco físico imediato. Aqui estão alguns exemplos:

- Ansiedade Social: Uma pessoa pode sentir uma intensa resposta de alerta ao se preparar para falar em público ou participar de um evento social. Embora não haja uma ameaça física real, o medo de julgamento ou rejeição pode desencadear sintomas como aumento da frequência cardíaca, sudorese e tremores.

- Medo de Falhar: Um estudante pode experimentar uma resposta de alerta ao pensar em um exame importante. A pressão para ter um bom desempenho e o medo das consequências de uma possível falha podem ativar o sistema de alerta, levando a sintomas de ansiedade e estresse.

- Preocupações Financeiras: Alguém pode sentir uma resposta de alerta ao revisar suas finanças ou ao pensar em contas futuras. Embora não haja uma ameaça física imediata, a incerteza sobre a estabilidade financeira pode criar uma sensação de perigo iminente.

- Insegurança Relacional: Uma pessoa pode sentir uma ativação do sistema de alerta ao perceber sinais de distanciamento ou desinteresse em um relacionamento romântico. O medo de abandono ou rejeição, mesmo que não haja evidência concreta, pode desencadear uma resposta emocional intensa.

- No contexto sexual: podem incluir o medo de não atender às expectativas do parceiro, preocupações com o desempenho sexual ou a ansiedade em relação à imagem corporal. Segundo Ricardo Cavalcanti e Carmita Abdo, essas inseguranças podem gerar um estado de alerta constante, que interfere na resposta sexual natural do corpo. Por exemplo, um homem pode experimentar disfunção erétil devido à ansiedade de desempenho, enquanto uma mulher pode enfrentar dificuldades em atingir o orgasmo por se sentir constantemente julgada ou inadequada. Essas preocupações, embora não representem uma ameaça física imediata, criam um ambiente de estresse psicológico que pode levar a disfunções sexuais, afetando a intimidade e a satisfação no relacionamento. Além disso, a pressão para corresponder a padrões de beleza ou habilidades sexuais idealizadas pode exacerbar essas ansiedades, perpetuando um ciclo de insegurança e insatisfação sexual.

Essas situações demonstram como o sistema de alerta pode ser ativado por ameaças percebidas ou emocionais, mesmo na ausência de um perigo físico direto. Isso destaca a importância de estratégias de regulação emocional para ajudar a gerenciar essas respostas e promover o bem-estar.

 

Estratégias Práticas para Regular o Sistema de Alerta

- Mindfulness (Atenção Plena) e Meditação: Práticas que ajudam a focar no presente, reduzindo a ativação do sistema de alerta. Estudos indicam que a meditação regular pode diminuir os níveis de cortisol, promovendo a calma e o relaxamento.

- Terapia: Ajuda a identificar e modificar padrões de pensamento que ativam o sistema de alerta. A terapia também é eficaz no tratamento de ansiedade, inseguranças relacionadas à sexualidade e também nas dificuldades no relacionamento.

- Expressão Criativa: Atividades como pintura, escrita e música permitem que as emoções sejam processadas de forma segura, ajudando a aliviar a carga emocional que ativa o sistema de alerta.

- Conexões Sociais: Relacionamentos saudáveis fornecem apoio emocional e um senso de segurança, essenciais para regular o sistema de alerta. Participar de grupos de apoio pode ser particularmente benéfico.

- Exercícios Físicos: A prática regular de atividades físicas, como caminhada, corrida ou yoga, ajuda a liberar endorfinas, que são hormônios que promovem a sensação de bem-estar. O exercício físico também reduz os níveis de estresse e ansiedade, contribuindo para a regulação do sistema de alerta.

- Lazer: Dedicar tempo a hobbies e atividades de lazer pode proporcionar uma pausa mental das preocupações diárias, ajudando a reduzir a ativação do sistema de alerta. Atividades recreativas promovem a descontração e o prazer, essenciais para o equilíbrio emocional.

- Hipnose: Esta técnica pode ser utilizada para acessar o subconsciente e reprogramar respostas emocionais a estímulos percebidos como ameaçadores. A hipnose condicionativa pode ajudar a reduzir a intensidade das respostas de alerta, promovendo uma sensação de controle e segurança.

- Técnicas de Respiração: Exercícios de respiração profunda e controlada podem ajudar a acalmar o sistema nervoso, reduzindo a resposta de alerta em situações de estresse. Técnicas como a respiração diafragmática são eficazes para promover o relaxamento imediato.

- Técnicas de Grounding: Ou "aterramento" em português, refere-se a uma série de técnicas utilizadas para ajudar uma pessoa a se reconectar com o momento presente e com o ambiente ao seu redor, especialmente em situações de estresse, ansiedade ou dissociação. Essas técnicas são particularmente úteis para pessoas que experimentam flashbacks ou se sentem sobrecarregadas por emoções intensas, ajudando-as a se ancorar na realidade imediata.

 

Dicas de Técnicas de Grounding:

1. Foco Sensorial: Concentre-se nos seus sentidos. Por exemplo, observe cinco coisas que você pode ver, quatro que você pode tocar, três que você pode ouvir, duas que você pode cheirar e uma que você pode saborear. Isso ajuda a trazer sua atenção para o ambiente físico ao seu redor.

2. Respiração Consciente: Preste atenção à sua respiração, sentindo o ar entrar e sair do seu corpo. Contar as respirações ou fazer respirações profundas e lentas pode ajudar a acalmar o sistema nervoso.

3. Contato com o Solo: Sente-se ou deite-se no chão e sinta o contato do seu corpo com a superfície. Isso pode ajudar a criar uma sensação de estabilidade e segurança.

4. Movimento Físico: Caminhar lentamente, sentir o peso do corpo em cada passo ou fazer alongamentos suaves pode ajudar a trazer a consciência para o corpo e o momento presente.

5. Objetos de Aterramento: Segurar um objeto familiar e reconfortante, como uma pedra lisa ou um talismã, pode ajudar a ancorar a mente no presente.

Entre outras técnicas e estratégias empregadas na terapia sexual, destacam-se a comunicação aberta entre parceiros, exercícios de foco sensorial e a educação sexual voltada para desmistificar crenças errôneas. Essas abordagens têm como objetivo aprimorar a compreensão mútua, fortalecer a conexão emocional e diminuir a ansiedade relacionada ao desempenho. Ao implementar essas práticas, busca-se promover uma vida sexual mais satisfatória e saudável, permitindo que os indivíduos e casais alcancem um maior bem-estar e satisfação em suas relações íntimas.

Essas estratégias, quando integradas ao cotidiano, podem proporcionar alívio significativo dos sintomas associados à ativação constante do sistema de alerta. Elas não apenas ajudam a gerenciar o estresse e a ansiedade, mas também promovem um estilo de vida mais equilibrado e saudável, essencial para o bem-estar emocional e físico.

 

Superando Inseguranças e Promovendo a Cura

O processo de cura e a superação de inseguranças são uma jornada contínua que exige paciência e prática. Recaídas são normais e fazem parte desse caminho, mas identificar gatilhos e desenvolver estratégias para enfrentá-los, como técnicas de respiração e grounding, pode ser extremamente útil. A autoaceitação e a autoestima são fundamentais para construir uma autoimagem positiva e reduzir inseguranças. Além disso, o perdão, tanto para si mesmo quanto para os outros, pode aliviar o peso emocional e facilitar a cura.

  Estabelecer metas realistas e respeitar limites pessoais são passos importantes para criar um senso de controle e segurança, ajudando a regular o sistema de alerta. Relacionamentos saudáveis, o apoio de grupos e a terapia oferecem suporte emocional valioso, especialmente para aqueles que enfrentam inseguranças relacionadas à sexualidade. Com dedicação e tempo, é possível alcançar um equilíbrio emocional e uma sensação de segurança pessoal, promovendo uma vida mais satisfatória e saudável.

 

Se você se identifica com essas situações e sente que precisa de apoio, não hesite em buscar ajuda profissional. Entre em contato para iniciar sua jornada rumo ao bem-estar emocional e à segurança pessoal.

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   Psicóloga Marisa I Soster Sartori 

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