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Marisa I Soster Sartori

TRANSTORNO DA DOR GÊNITO-PÉLVICA/PENETRAÇÃO


O transtorno da dor gênito-pélvica/penetração ou Vaginismo e Dispareunia, como também é conhecido, é uma disfunção complexa e pouco conhecida que pode causar muito sofrimento ou dificuldade interpessoal na mulher.

A mulher com dor muitas vezes apresenta sentimento de rejeição, agressividade, hostilidade, vergonha ou culpa, ansiedade, experiências de traumas psicológicos, conflitos não resolvidos, redução da lubrificação vaginal e do desejo sexual e diminuição do orgasmo.

O Vaginismo e a Dispareunia, segundo Ahlert (2019) “[...] ainda é muito pouco diagnosticado com fidedignidade pelos profissionais da saúde, sendo visto muitas vezes como passível de tratamento, relaxando com bebida alcoólica ou com o simples uso de gel íntimo”.

Para serem devidamente tratados devem ser analisados com cuidado por especialista na área da Sexualidade, preferencialmente um Sexólogo ou Terapeuta Sexual. Ahlert (2019) também cita que “[...], muitas situações desgastantes podem surgir se o casal não conseguir conciliar as suas diferenças e crescerem com elas”.


Vaginismo

Huguier foi o primeiro a descrever a síndrome, como um espasmo involuntário da abertura da vagina, que causa excessiva sensibilidade impedindo o coito. Depois, Masters e Johnson descreveram o vaginismo como um reflexo involuntário e espástico da musculatura pélvica, retirando a liberdade da mulher em ter coito parcial e até mesmo total. Basson et al., nos tempos atuais, descreve o vaginismo persistente ou recorrente como dificuldade da mulher em permitir a entrada do pênis na vagina, ou qualquer outro objeto, apesar de ser sua vontade. No vaginismo existe uma evitação fóbica, contração involuntária da musculatura pélvica e antecipação da experiência de dor (AMBROGINI; LORDELLO; ZANETI (2017).


Dispareunia

Coito difícil ou doloroso que interfere no intercurso sexual. Dor recorrente ou persistente durante o ato sexual com tentativas de penetração peniana parciais ou completas.


Vulvodínia

Nome usado para caracterizar toda dor genital na região vulvar. Ambrogini, Lordello, Zaneti (2017), apontam que em virtude da dificuldade em diagnosticar a vulvodínia na prática clínica, devido a sobreposição dos sintomas, foi classificada como Transtorno da dor gênito-pélvica/penetração no DSM-5.

A vulvodínia não tem etiologia nem tratamentos claros, deve ser diferenciada de causas orgânicas que acometem a pele e a mucosa, é tratada de acordo com o fator causal específico. As causas orgânicas da dor vulvar são endometriose, doença inflamatória pélvica, deficiência de estrogênio, prolapso de órgãos pélvicos, incontinência urinaria, cistite intersticial, tratamento de câncer ginecológico, quimioterapia, malformações, fibrose uterina, síndrome do intestino irritável, radiação pélvica e mutilação genital, etc. É classificada em subtipos em razão da localização da dor e do fator desencadeante (AMBROGINI; LORDELLO; ZANETI, 2017):

  • Vulvodínia localizada: restrita a uma parte da vulva, como vestíbulo ou clitóris;

  • Vulvodínia generalizada: quando afeta toda região vulvar. É desencadeada por traumatismo ou distúrbio dos músculos e ligamentos do abdome inferior ou pélvicos. Também estão relacionados com candidíase de repetição;

  • Vulvodínia provocada: quando ocorre em resposta a estímulos externos. A causa mais comum da dor genital superficial ocorre em mulheres na pré-menopausa. A etiologia é multifatorial, desde fatores psicológicos a traumatismo, responsáveis por causar uma reação inflamatória. É comum outros distúrbios da dor, bem como transtornos ansiosos e depressivos;

  • Vulvodínia não provocada: a dor espontânea independente da estimulação;

  • Vulvodínia mista: combinação de dor provocada e não provocada. A dor é continua e difusa, descrita como uma queimação. É menos vista e, em casos típicos afeta mulheres na pós-menopausa;

  • Vulvodínia generalizada e não provocada é menos vista e afeta as mulheres pós-menopausa. A dor é contínua, difusa e como se fosse uma queimação. Pode haver atividade sexual, muitas vezes, sem dor.

A reação da dor pode gerar medo e ansiedade de antecipação intensa de penetração vaginal, o que pode levar a mulher a ter evitação da relação e da penetração. O padrão de evitação ou a descrição desse evento é semelhante a uma reação do transtorno fóbico.

Além da dificuldade ser comum na relação sexual ou penetração com um parceiro, pode também estar presente ao fazer exames ginecológicos necessários (DSM – 5).


Sintomas da dor gênito-pélvica/penetração:

Dificuldades persistentes ou recorrentes com um ou mais dos seguintes sintomas:

  • Dificuldade persistente de penetração vaginal durante a relação sexual;

  • Dor vulvovaginal ou pélvica intensa durante a relação sexual vaginal ou nas tentativas de penetração;

  • Medo ou ansiedade intensa de dor vulvovaginal ou pélvica anterior ao ato sexual, durante o ato ou como resultado de penetração vaginal;

  • Tensão ou contração muscular acentuada nos músculos do assoalho pélvico durante as tentativas de penetração vaginal.

Para ser diagnosticada como dor gênito-pélvica/penetração, os sintomas devem persistir por um período mínimo de 6 meses, com sofrimento significativo para a mulher, não ser causada por outro fator psicológico, ou devido aos efeitos de uso de alguma substancia ou ainda outras condições médicas. O transtorno pode ter sido adquirido ou surgido já no início da vida sexual, ainda pode ser generalizada ou situacional, leve, moderada ou grave (DSM-5, 2014).

Além dos subtipos acima, outros fatores devem ser observados para apoiar o diagnóstico, identificar a causa e para o tratamento:

  • Fatores relacionados ao parceiro (problemas sexuais e estado de saúde);

  • Fatores relacionados ao relacionamento (comunicação inadequada, discrepância no desejo para a atividade sexual);

  • Fatores relacionados a vulnerabilidade individual (má imagem corporal, história de abuso sexual ou prazer, atitudes em relação a sexualidade);

  • Fatores médicos relevantes para prognóstico, curso e tratamento.

Esse transtorno deve ser cuidadosamente diagnosticado por um profissional especializado (Ginecologista, Fisioterapeuta Pélvico) para descartar causas de aspectos orgânicos e/ou físicos. As causas de origem psicológica podem ser tratadas com sucesso por Psicólogo especializado em sexualidade.


Etiologia - Causas:

A origem pode ser devido a diversos fatores, entre eles:

  • Experiências de violência sexual;

  • Contato precoce com a sexualidade, ao presenciar cenas de sexo;

  • Ser abordada na rua com cunho sexual inapropriado;

  • Devido as primeiras experiências sexuais traumáticas, até o abuso sexual;

  • Outros fatores como: educação sexual inadequada, ortodoxia religiosa e a violência física ou sexual, infecções vaginais repetidas, endometriose, doenças inflamatórias pélvicas, atrofia vulvovaginal e traumas.

As causas devem ser cuidadosamente investigadas pois podem ser claras e visíveis na memória, como também estarem muito escondidas, pois são de muito sofrimento, violência e tristeza para a mulher.

É comum também observar um comportamento evitativo, semelhante aos transtornos de ansiedade, de situações que desencadeiam dor, desde situações sexuais até a realização de exames ginecológicos (AHLERT, 2019).

Tratamento

O transtorno de dor sexual feminino pode resultar de várias condições e causar prejuízos pessoais e sexuais. Apesar disso, somente metade das mulheres com o problema procuram tratamento (AMBROGINI; LORDELLO; ZANETI (2017). É possível que a mulher busque tratamento no momento em que desejar engravidar pela impossibilidade de conceber por meio da relação sexual vaginal. Há uma série de fatores internos do corpo e externos do meio que podem causar dor na relação sexual.

O tratamento para ser efetivo, deve envolver tratamento com profissionais das áreas de fisioterapia pélvica e psicoterapia. Recomenda-se uma avaliação completa dos possíveis fatores clínicos, sexuais e psicológicos.

O tratamento é realizado através de psicoterapia sexual individual ou de casal direcionado de acordo com os fatores etiológicos, que nem sempre são reconhecidos pela mulher, mas que influenciam muito na resolução do problema.

Na Psicoterapia é importante avaliar o histórico sexual, informações sobre a dor, sua localização, duração, sobre suas experiências e parceria sexual, entre outras informações. O planejamento terapêutico dependerá dos dados observados e dos objetivos a serem atingidos.

As técnicas utilizadas em terapia sexual são importantes para criar uma rotina sexual entre o casal; para alívio dos sintomas do medo e da ansiedade; dessensibilização progressiva, terapia de relaxamento, entre outras intervenções.


REFERÊNCIAS

AHLERT, Bárbara. Inteligência erótica, Porto alegre, 2019. Disponível em: https://inteligenciaerotica.com.br/vaginismo-e-dispareunia/. Acesso em: 19 set. 2019.


AMBROGINI, Carolina; LORDELLO, Maria C. de Oliveira; ZANETI, Mariana M. Disfunções sexuais femininas. In: DIEHL, A.; VIEIRA, D. L. Sexualidade: do prazer ao sofrer. 2. ed. Rio de Janeiro: Roca, 2017.


Manual Diagnóstico e Estatístico de transtornos mentais: DSM-5. 5. ed. Porto Alegre: Artmed, 2014, 948 p.




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