Antes de falar sobre o transtorno do interesse/excitação sexual feminino, vale apontar alguns pontos sobre a sexualidade e fatores que influenciam no funcionamento sexual.
A sexualidade é inseparável da estrutura mental do sujeito, se faz presente desde a vida intrauterina e durante todo seu desenvolvimento humano, sendo modelada em cada etapa do ciclo vital, por elementos extrínsecos e intrínsecos ao indivíduo (AMBROGINI; LORDELLO; ZANETI (2017, p. 237).
O comportamento sexual é determinado por uma interação de fatores e pode ser afetado pelos: relacionamento (s) do indivíduo com outro (s); por circunstâncias da vida; e pela cultura em que vive.
A sexualidade da mulher deve ser compreendida, levando em consideração algumas particularidades: Idade do ciclo de vida; índices hormonais; situação conjugal/afetiva; imagem corporal e autoimagem; comorbidades (especialmente depressão e ansiedade); capacidade de identificação e comunicação das dificuldades sexuais.
A disfunção sexual feminina é definida como uma persistente ou recorrente alteração no “ciclo da resposta sexual”, o que causa insatisfações durante o relacionamento sexual (AMBROGINI; LORDELLO; ZANETI (2017, p. 237).
As causas são multifatoriais e influenciada por fatores: físicos; psicológicos; emocionais e sociais.
As disfunções sexuais femininas, de acordo com (DSM-5), se classificam-se em três grupos: transtorno do interesse/excitação sexual feminino; transtorno do orgasmo feminino; e transtorno da dor gênito-pélvica/penetração.
Transtorno do interesse/excitação sexual feminino
O desejo sexual hipoativo (DSH) e os transtornos de excitação foram englobados em um único tópico: transtorno do interesse/excitação sexual feminino. O transtorno se caracteriza por diminuição persistente de pensamentos eróticos e da motivação para iniciar atividade sexual e pela dificuldade de obter resposta fisiológica do desejo, caracterizada pela congestão dos genitais e consequente lubrificação. Tais sintomas causam sofrimento pessoal ou interpessoal.
Fatores que podem interferir no desejo sexual feminino:
Drogas: a maioria de substâncias psicoativas (sedativos, hipnóticos, ansiolíticos, narcóticos, antidepressivos, psicoestimulantes, alucinógenos e álcool) podem alterar e interferir o ciclo da resposta sexual feminina. Além desses, alguns hormônios e anti-hipertensivos podem interferir na libido;
Distúrbios neurológicos dos centros superiores e dos centros inferiores: (esclerose múltipla, doenças neurodegenerativas, cirurgias neurológicas, traumatismos e lesões medulares) podem alterar a resposta sexual;
Endocrinopatias: (diabetes melito, hipotireoidismo, doença de Addison: as glândulas adrenais produzem quantidade insuficientes do hormônio cortisol e as vezes também aldosterona, hipopituitarismo: doença endócrina que causa diminuição dos hormônios produzidos pela glândula hipófise, etc;
Estresse;
Anticoncepção: (pílula, adesivos, injeções e anel vaginal) podem causar em algumas mulheres diminuição do desejo sexual;
Esterilidade: a esterilidade conjugal é um fator que pode provocar muita ansiedade;
Ciclo gravídico-puerperal: o casal gravido altera o padrão sexual. A gestação causa alterações fisiológicas dos hormônios, modifica o corpo da mulher e altera a dinâmica psicológica do casal, podendo causar diminuição do desejo. As vezes ocorre medo de prejudicar a gestação por meio das relações sexuais. No puerpério, a mulher fica mais suscetível a depressão; a chegada do novo membro da família exige atenção, acaba por provocar cansaço de baixa libido. Além de alterações hormonais devido à amamentação. A prolactina diminui o desejo sexual, inibe a ovulação e reduz a lubrificação vaginal, estes últimos como consequência do hipoestrogenismo provocado;
Transição menopausal e pós-menopausa: as queixas de diminuição da libido são frequentes em mulheres menopausadas. Na maioria das vezes pela queda dos níveis de testosterona e dos estrogênios, responsável pelas disfunções sexuais dessa fase da vida da mulher. Baixos níveis de testosterona acarretam (adinamia, desânimo, diminuição do desejo); o hipoestrogenismo causa (redução da lubrificação vaginal, provocando dor na penetração) o que leva a esquiva do sexo. Além desses fatores físicos ocorrem: sentimento de inutilidade, perda do corpo jovem que pode causar baixa autoestima, depressão e, em decorrência, disfunções sexuais (AMBROGINI; LORDELLO; ZANETI, 2017, p. 237).
Desejo sexual hipoativo primário X secundário
O DSH pode ser primário e secundário. No primeiro caso, os aspectos emocionais devem ser explorados porque pode ser influenciado por traumas, abuso sexual e educação religiosa rígidas. Características da personalidade, como timidez acentuada e baixa autoestima, também são bastante encontradas.
No DSH secundário, o momento do aparecimento da queixa deve ser mais investigado. Analisar a fase de vida da mulher, questões biológicas e emocionais, além dos fatores marcantes de vida e de relacionamento.
É importante descartar causas orgânicas, por isso é importante encaminhamentos médicos. Exames laboratoriais podem ser solicitados para uma avaliação completa, como:
Hemograma, para diagnosticar anemias;
Função tiroidiana. Disfunções da tireoide podem causar DSH;
Lipidograma + glicemia. Para avaliação metabólica;
FSH, LH (gonadotrofinas) + estradiol + prolactina. Avaliam o estado hormonal;
Testosterona total e livre + SHBG e albumina (proteínas que se ligam aos hormônios sexuais);
Enzimas hepáticas, para avaliar a função hepática caso haja necessidade de reposição de testosterona.
O tratamento deve ser realizado por equipe multidisciplinar, avaliando-se cada caso e condição do problema, deve-se incluir um planejamento terapêutico, técnicas de terapia sexual e uso de medicamentos quando necessário.
A abordagem terapêutica dependerá dos dados observados na anamnese. Na terapia sexual poderá ser utilizado técnicas para a aproximação do casal, terapia de casal no caso de crises no relacionamento. A dinâmica do casal merece investigação sobre o entendimento geral dos parceiros, se existem brigas, traições, mágoas e outros fatores que possam afetar a vida sexual. Buscar detalhes sobre a rotina sexual, o desejo se é espontâneo, o desejo responsivo, a abordagem, as preliminares, a excitação, o orgasmo e a satisfação sexual. Também é importante analisar a existência de fantasias eróticas entre o casal, as motivações para o sexo, o grau de intimidade e a comunicação do casal. Terapia de grupo pode ter utilizado em alguns casos.
A mulher pode ser incentivada a realizar algumas técnicas de terapia sexual, como: autoconhecimento, dessensibilização masturbatória, formação de fantasias, reestruturação cognitiva, técnicas para melhorar a autoestima, etc.
Agende uma consulta pelo telefone: (49) 99133 3701.
Marisa Ivete Soster Sartori
Psicóloga CRP-12/13681
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